quarta-feira, 20 de outubro de 2010

achei lindo e quis guardar.

“(…) A nossa vida cotidiana é sempre bombardeada pelos acasos, mais exatamente por encontros fortuitos entre as pessoas e os acontecimentos, ou seja, por aquilo a que costuma chamar-se “coincidências” . Há uma coincidência quando dois acontecimentos inesperados se produzem ao mesmo tempo, quando se encontram um com o outro: por exemplo, Tomas aparece no restaurante precisamente no momento em que a rádio toca Beethoven. Na sua imensa maioria, este tipo de coincidência passa totalmente despercebido. Se o homem do talho tivesse vindo sentar-se a uma mesa do restaurante em vez de Tomas, Tereza não teria reparado que a rádio tocava Beethoven (embora o encontro de Beethoven com um homem do talho também não deixe de ser uma coincidência interessante). Mas o amor que nascia aguçou-lhe o sentido da beleza e, por isso, nunca mais esquecerá essa música. Sempre que a ouvir, se sentirá comovida. Tudo o que se passar à sua volta nesse instante ficará aureolado com o brilho dessa música e será belo.
(…) Não há, portanto, razão nenhuma para censurar aos romances o seu fascínio pelos misteriosos cruzamentos dos acasos (…), mas há boas razões para censurar o homem por ser cego a esses acasos na sua vida cotidiana e assim privar a vida da sua dimensão de beleza.”

(“A insustentável leveza do ser”, Milan Kundera)

Um comentário:

toc toc!